Pode ser que o mundo acabe na semana que vem.
O que é que eu posso fazer senão conhecer até à exaustão
todas as coisas que fazem de ti um verão denso e humífero?
Cantar sem vacilar por exemplo esse teu ar breve de pequena vissapa de luz.
A mim pouco importa o destino do universo
saber se os planetas estão na mão de algum deus subatómico
ou se um meteorito beija a Terra por amor ou por acaso.
Pode ser até que o mundo se acabe na semana que vem.
A mim basta conhecer
uma a uma essas colónias de sede e de êxtase
que o teu sangue construiu com apoteose e presciência
em cada ossatura do teu porte
uma a uma essas luas térreas de sedução
que a savana do teu riso faz refém em cada sequência do teu andamento galáctico.
A mim basta saber que a simples historicidade do teu cio
sempre desenha um pendor de pássaro
na frágil película da minha humanidade.
Pode ser que o mundo acabe na semana que vem.
Macacos me mordam se mesmo assim eu não te levo (ainda hoje)
nos meus ombros a chupar gelado de múcua
para espanto crucial da cidade.
José Luís Mendonça [do livro Esse País Chamado Corpo de Mulher]
Fonte: Jornal de Angola