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Jan 28

52 anos daquele que já foi o edifício mais alto do Império.


Fonte: Luanda como ela era 1960-1975)

 

Aquele não era um edifício qualquer. A 28 de Janeiro de 1967, o Banco Comercial de Angola ( BCA ) inaugurou uma imponente sede com 26 pisos, 87 metros de altura e 17 300 metros quadrados de área de construção . Desenhado pelo arquitecto portuense Januário Godinho, tornou – se o arranha- céus mais alto do Império português . A obra custou cerca de 70 mil contos ( cerca de 350 mil euros hoje ) demorou seis longos anos a erguer e deu tempo suficiente para espalhar uma anedota pela então capital da província de Angola : Em Luanda comentava – se que o BCA não queria dizer Banco Comercial de Angola , era afinal o acrónimo de Bai Continuar Ainda .
O BCA entrou no mercado , em 1957, com um objectivo : ser mais moderno, ágil e competitivo do que o Banco Nacional de Angola ( BNA ). Em apenas doze meses, a primeira instituição bancária privada da Província , ligada ao Banco Português do Atlântico , captou depósitos no valor de mais de um milhão de contos (cerca de 5 milhões de euros hoje ), uma vitória que muito se deveu à acção de um grupo de sete funcionários metropolitanos ,destacados para ajudar a implementar o novo negócio em Angola .
O Banco Comercial quebrou a hegemonia do Banco de Angola, que passou a ter concorrência e foi forçado a partilhar o mercado das trocas comerciais ( de divisas provenientes do café , sisal etc. ) com o estrangeiro . Os serviços do BCA eram muito mais rápidos : em vez de demorarem um mês a analisar garantias bancárias para a concessão de créditos , tratavam de tudo numa semana . O risco era diminuído por ” uma boa rede de informadores que forneciam dados fiáveis sobre a saúde financeira dos clientes ” . Na assessoria jurídica , o BCA contava com gente de peso : Diógenes Boavida e Maria do Carmo Medina , dois dos mais prestigiados advogados da Luanda de então . A revolução no mercado bancário começou aí ( em 1957) e materializou- se, dez anos depois , com a construção de uma sede que ensombrou o edifício cor-de-rosa , baixo e tradicional do Banco de Angola .
Ao descerrar a placa inaugural , o governador – geral , Rebocho Vaz ,abriu definitivamente ao público uma torre que mudou a face da Marginal ainda antes de estar terminada . Rebocho Vaz disse na inauguração :”Este edifício ficará a perpetuar e a invocar às gerações futuras o simbolismo da heróica fixação portuguesa em terras de África”.
O arcebispo de Luanda, D. Manuel Nunes Gabriel , abençoou as instalações e assinou o livro de honra .Artur Cupertino de Miranda, presidente do Conselho de Administração , destacou a grandeza do novo símbolo e monumento da cidade : “Não é só um marco gritante de fé no futuro . Não é só um alto expoente da força de uma economia e da determinação de uma fé .Por todas as circunstâncias de que a sua inauguração se rodeou , pelo que representa de estímulo e de entusiamo para todos , o arranha – céus do Banco Comercial de Angola fica ,neste princípio de 1967, como uma pedra branca na economia de Angola . Branca e azul , a simbolizar a esperança e a certeza de que vamos em frente”.
Cupertino de Miranda salientou ainda que o BCA passava a ser um dos dez bancos mais modernos do mundo e o mais arrojado de Portugal inteiro . Cupertino de Miranda estava ladeado de dois outros administradores presentes, Braz Cabrita de Almeida e Manoel Vinhas (o da CUCA).
Outro dado curioso é de que a maior parte do dinheiro que o BCA tinha em caixa , na data da inauguração da nova sede , foi transferida para os cofres do Banco Nacional de Angola , por motivos de segurança . No entanto , sobraram 23 mil contos ( cerca de 115 mil euros hoje )  das operações realizadas nesse dia , e que teriam de ser transportados para as novas caixas – fortes . Várias empresas participaram na construção do então edifício mais alto do Império : A Construções Especiais , Lda. foram as responsáveis pela concretização da obra , a Empresa Comercial do Ultramar foi a fornecedora dos vidros e portas Covina , do mosaico bizantino Vidrul para revestimento das fachadas , loiças sanitárias Valadares, ladrilho das Cerâmicas São Paulo e as tintas Robbialac . A Lusolanda, representante em Angola de produtos tão variados como eletrodomésticos Philips e motos Suzuki, assumiu os créditos de uma autêntica lança em África : a instalação de um sistema centralizado de ar condicionado que produzia 24 milhões de BTU’s por hora , uma capacidade excepcional em todo o continente nesta época .
Depois da independência nacional , em 11 de Novembro de 1975 , o Banco Comercial Angolano ( BCA ) passou para Banco Popular de Angola  ( BPA ) e nos anos 90 do século XX passou a ser o Banco de Poupança e Crédito ( BPC ) ou como diz o povo na sua fértil e bem humorada imaginação : BPC – Banco da Paciência e Coragem . Curioso será também dizer que hoje existem em Angola instituições bancárias privadas com iniciais que o actual BPC já usou . Há o BCA – Banco Comercial de Angola e o BPA – Banco Privado Atlântico.
Salambende Mucari, Jornalista e Escritor