
Sergio Picarra
Ele, professor de Língua Portuguesa na escola Alda Lara e antes disso no Ngola Kiluanji, escrevia para crianças, e eu desenhava para a página infantil do Jornal de Angola.
Corriam os anos 80, andava eu pelos meus 16 ou 17 anos, e ele, bastante mais velho, pelos 30 e poucos. O ponto de encontro foi lá, na redacção do Jornal de Angola, de onde começou uma amizade que durou mais de 30 anos. Ilustrei livros que ele escreveu para crianças, e ilustrei contos que ultimamente ele escrevia para a revista Austral. Mas não só: ele escreveu também pelo menos dois guiões para o Mankiko, que tive o prazer de desenhar. Andámos soltos na noite de Luanda, desde o Elinga ao Ponto Final, a espaços de cultura da cidade, uma das suas paixões, não tivesse sido ele também o criador do “Tantã Cultural”, uma pequena brochura digital com a agenda das actividades culturais do país. Os mais kotas lembrar-se-ão do programa “Vence quem Sabe” que passava na TPA apresentado e concebido por ele, e de rubricas de Cultura Geral na Rádio Nacional animadas pela sua voz, programas que muita falta fazem hoje neste mar de futilidades que nos oferecem as TPAs e as RNAs…
Deixou-nos o António Pinto-Kituxi, como ele se identificava, porque era com Angola que ele se identificava. Com mais de 60 anos vividos aqui, apesar de nascido português, deixado filhos e muitos, muitos alunos que passaram por ele, não podia ser diferente. Fica a tristeza, mas também a revolta, grande revolta, por saber como um homem bom, já nos seus 70 anos, morre estupidamente, num país que não consegue prover saneamento básico e cuidados de saúde, 50 anos depois de se tornar país. Morre um homem simples, de uma grande humildade e de um enorme coração, porque assim são feitas as pessoas de verdade.
Fonte: Facebook
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