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Dez 22

Troufa Real – O Arquitecto que gostava de ser marinheiro

Nascido em Luanda, em 1941, José Troufa Real veio para Lisboa com uma bolsa da Câmara Municipal de Luanda, diplomando-se em arquitectura na Escola Superior de Belas-Artes em 1967. Durante esse período de estudos, deu aulas de guitarra clássica e trabalhou no atelier de um homem a quem sempre dedicou muita admiração: o arquitecto Cassiano Branco. Mesmo antes de finalizar a licenciatura, foi primeiro classificado no concurso público para a construção do Palácio da Justiça de Luanda, realizando durante os anos seguintes dezenas de projecos para a sua terra natal: tempo mais tarde, sensibilizado pelos problemas e as especificidades de Angola e do seu povo. Troufa Real concebeu, num projecto arrojado, uma nova capital para o país a que chamou Angólia e que referiu como ficando situada “num sítio que, do ponto de vista antropológico, deverá ser uma região de encontro de etnias, sem conflitos, terra de paz”. Em 1980, com uma bolsa do Instituto Nacional de Investigação Científica, diplomou-se no Architectural Association Shool of Architects de Londres em Planeamento Nacional, Regional e Urbano, tendo obtido a graduação académica mais distinta (Honours). A sua actividade pedagógica começou logo em 1968, em Luanda, mas desenvolveu-se em Lisboa, na ESBAL, a partir de meados dos anos 70, no domínio no Planeamento Regional e Urbano, área sobre a qual desenvolveu grande parte dos seus estudos teóricos e publicações. A sua preocupação em humanizar a arquitectura, reabri-la ao saudável convívio com todas as artes, à imagem do estilo de vida e obra dos Modernistas, está sempre presente tanto no empenho da sua actividade como professor, quanto na cor e no ornamento, ou na utilização de elementos geométricos e simbólicos, da sua obra. Em Lisboa, 1988, viu o seu projecto para a reconversão do Cinema Tivoli, na Avenida da Liberdade, ser recusado por questões técnicas e financeiras, ou como acusou um artigo da altura, por “censura arquitectónica”: facto que provavelmente só o motivou ainda a manter-se fiel às especificidades da sua obra e a sonhar a cidade desprendido dos atavismos tecnocráticos. Até porque, três anos depois, a aprovação do seu projecto para o Edifício Império, no Arco do Cego, trouxe de volta a mesma carga de evocações do Mdernismo: “pedaços” de vários edifícios históricos da cidade, como o Cinema Império ou o Cinearte, misturados com reproduções de uma célebre fotografia de Almada Negreiros, intervenção de Leonel Moura-edifício que Troufa Real designou como “o cadáver esquisito de uma homenagem a homens que só sabiam trabalhar com artistas”. Nos últimos tempos, dirigiu uma grande equipa na elaboração e construção de uma parte da Expo 98, uma zona para urbanização junto ao rio na parte sul, para o lado de Lisboa, denominada Plano de Pormenor 3. Além do planeamento, Troufa Real projectou o edifício de habitação “Casas do Tejo”, uma evocação aos Descobrimentos, ao Manuelino, à terra e ao mar: algo que pode ser descrito como “um navio fantástico encalhado na Expo 98”.

Durante o último mês de Junho e Julho, realizou-se uma exposição no Portugal dos Pequenitos. Troufa Real apresentou parte da sua colecção de desenhos alguns deles com fantásticas molduras de Amâncio Guedes, mais conhecido como Pancho, com propostas que se misturam entre a vertente portuguesa e a exaltação de exotismos que têm a ver com a exuberância das formas tropicais.

Realizou-se também durante o mês de Julho, a homenagem a Troufa Real, com a exposição “Simbólica ao mar, através das Casas Portuguesas”, pela fundação do convento da Orada, em Monsaraz.

Para comemorar este evento, a Fundação deliberou instituir o Prémio Bianual para Jovens Arquitectos do Mundo Lusófono com o título “Prémio Troufa Real”.

Para além da actividade de arquitecto/designer, Troufa Real é professor catedrático na Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa.

 

Nuno Ladeiro
Arquitecto