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Jan 10

Um relógio para a Casa de Fernando Pessoa

O convite poro a invenção de um relógio para a Casa de Fernando Pessoa, nasceu de uma conversa dos meus queri­dos amigos Dr. João Soares e Lamartine Lodeiro tendo em atenção a série de novos equi­pamentos e objectos que já estavam a ser estudados por outros criadores. Aos dois não posso deixar de agradecer a lembrança, porque sem essa vontade não teria sido possível tal aventura, dando assim uma certa continuidade à pequena série de relógios de pulso que tenho vindo a desenhar para algumas nobres causas, como o “PSwatch” para as legislativas de Jorge Sampaio, o “Rebeldia” para o Grémio Lusitano ou o da “Palmeira” em homenagem a Lorca para uma campanha con­tra a droga.
Desta vez o relógio seria de parede, muito maior e com um objectivo completamente dife­rente. Um relógio homenagem a propósito de um Fernando Pessoa que em dada altura, num célebre artigo publicado no Diário de Lisboa em 4 de Fevereiro de 1935 deu um grilo de Uberdade e de protesto (mais um), contra o projecto de lei do Senhor deputado José Cabral sobre as “Associações Secretas” que viria a originar a proibição da Maçonaria em Portugal. Um texto notável que se recomenda a leitura.
O Desenho do Relógio teve a sua motivação óbvia, no imagi­nário da geometria sagrada no “Templo”. A Luz (contra as trevas), a SABEDORIA, a FOR­ÇA, e BELEZA. Da cabala do pentágono na sua ordem numé­rica e geometria, à ordem do TEMPO das horas, dos minutos e dos segundos. 11 — 12 um pouco à maneira de Almada com o 1 + I = 1, que também se recorda e este ano se homenageia.
O mostrador representa o Sol, com seus doze raios flamejantes (horas). A semi esfera central recorda a Estrela da Vida. O Pêndulo de grande dimensão resulta do Triângulo Sublime do Pentágono.
Todo o Desenho (Sagrado) a Côr e os Materiais na tradição do Barroco representam a Mu­dança, recorda Galileu, Marquês de Pombal, o liberalismo, a Primeira República, o 25 de Abril. As cores situam-se entre o ouro e o azul celeste. Os materiais: o Sol em talha dou­rada, à maneira antiga, a esfera em vidro de Morano e o pêndulo em metal lacado. A produção e o estudo dos mecanismos teriam que ser rea­lizados por alguém que garan­tisse toda a qualidade não só de funcionamento mas também de natureza plástica. Infelizmente nesta matéria não foi possível encontrar a resposta desejada nos artesãos portugueses. Por escolha do Lamartine, pelo cuidado que sempre impõe a todos os objectos e equipamen­tos a que se liga apaixonada­mente (como é o caso) e dadas as suas ligações culturais e comerciais a Itália, entregou o trabalho a um dos notáveis artistas e coleccionadores de relógios, o Giuliano Bettinzolli, da Continuità, de Bolonha, com quem tivemos a oportunidade de conversar sobre o relógio e com o qual, diga-se a bem da verdade se interessou. Espere­mos agora os resultados… Serão produzidos apenas dois exemplares de parede (dois metros de altura) que se prevê estarem concluídos em ‘Junho do próximo ano. Admite-se a hipó­tese de reprodução de cópias reduzidas para produção indus­trial.
Brevemente o Giuliano virá a Lisboa porá trabalharmos e conhecer o local.

 

Troufa Real
Professor Arquitecto