O convite poro a invenção de um relógio para a Casa de Fernando Pessoa, nasceu de uma conversa dos meus queridos amigos Dr. João Soares e Lamartine Lodeiro tendo em atenção a série de novos equipamentos e objectos que já estavam a ser estudados por outros criadores. Aos dois não posso deixar de agradecer a lembrança, porque sem essa vontade não teria sido possível tal aventura, dando assim uma certa continuidade à pequena série de relógios de pulso que tenho vindo a desenhar para algumas nobres causas, como o “PSwatch” para as legislativas de Jorge Sampaio, o “Rebeldia” para o Grémio Lusitano ou o da “Palmeira” em homenagem a Lorca para uma campanha contra a droga.
Desta vez o relógio seria de parede, muito maior e com um objectivo completamente diferente. Um relógio homenagem a propósito de um Fernando Pessoa que em dada altura, num célebre artigo publicado no Diário de Lisboa em 4 de Fevereiro de 1935 deu um grilo de Uberdade e de protesto (mais um), contra o projecto de lei do Senhor deputado José Cabral sobre as “Associações Secretas” que viria a originar a proibição da Maçonaria em Portugal. Um texto notável que se recomenda a leitura.
O Desenho do Relógio teve a sua motivação óbvia, no imaginário da geometria sagrada no “Templo”. A Luz (contra as trevas), a SABEDORIA, a FORÇA, e BELEZA. Da cabala do pentágono na sua ordem numérica e geometria, à ordem do TEMPO das horas, dos minutos e dos segundos. 11 — 12 um pouco à maneira de Almada com o 1 + I = 1, que também se recorda e este ano se homenageia.
O mostrador representa o Sol, com seus doze raios flamejantes (horas). A semi esfera central recorda a Estrela da Vida. O Pêndulo de grande dimensão resulta do Triângulo Sublime do Pentágono.
Todo o Desenho (Sagrado) a Côr e os Materiais na tradição do Barroco representam a Mudança, recorda Galileu, Marquês de Pombal, o liberalismo, a Primeira República, o 25 de Abril. As cores situam-se entre o ouro e o azul celeste. Os materiais: o Sol em talha dourada, à maneira antiga, a esfera em vidro de Morano e o pêndulo em metal lacado. A produção e o estudo dos mecanismos teriam que ser realizados por alguém que garantisse toda a qualidade não só de funcionamento mas também de natureza plástica. Infelizmente nesta matéria não foi possível encontrar a resposta desejada nos artesãos portugueses. Por escolha do Lamartine, pelo cuidado que sempre impõe a todos os objectos e equipamentos a que se liga apaixonadamente (como é o caso) e dadas as suas ligações culturais e comerciais a Itália, entregou o trabalho a um dos notáveis artistas e coleccionadores de relógios, o Giuliano Bettinzolli, da Continuità, de Bolonha, com quem tivemos a oportunidade de conversar sobre o relógio e com o qual, diga-se a bem da verdade se interessou. Esperemos agora os resultados… Serão produzidos apenas dois exemplares de parede (dois metros de altura) que se prevê estarem concluídos em ‘Junho do próximo ano. Admite-se a hipótese de reprodução de cópias reduzidas para produção industrial.
Brevemente o Giuliano virá a Lisboa porá trabalharmos e conhecer o local.
Troufa Real
Professor Arquitecto