Conheci o arquitecto Troufa Real em 1970, em Luanda, no Agrupamento de Engenharia de Angola, de que eu era comandante, e Troufa Real alferes miliciano.
Era a guerra colonial, uma guerra injusta que o governo fascista-colonialista português fazia aos povos das colónias e à luta dos seus Movimentos de Libertação.
O alferes Real sentia bem a injustiça da guerra em que estávamos envolvidos.
Anti-colonialista, miliciano, arquitecto entre tantos engenheiros, e engenheiros militares, sendo irreverente, dotado de muito talento e de uma acentuada sensibilidade artística, desassombrado, frontal e crítico e, ainda, dadas as tradicionais diferenças entre os arquitectos e os engenheiros, ambos criadores à sua maneira, o alferes Real, inevitavelmente, tinha frequentes confrontações e incompreensões com os seus superiores.
Acresce que o campo de acção profissional do arquitecto Real, em que ele pudesse realizar as suas potencialidades, era muito limitado no âmbito da actividade do Agrupamento.
Era necessário compreender e respeitar a sua personalidade, tanto mais que, numa situação como a daquela injusta guerra, havia que garantir para a própria defesa dos nossos homens relações de sólida camaradagem.
Foi nestas condições tão adversas que, entre mim e o arquitecto Troufa Real, surgiram e se desenvolveram relações de uma sã camaradagem que cimentaram, entre nós, uma profunda, sólida e duradoura amizade de que guardo frequentes provas, muito carinhosas, da parte de Troufa Real.
É, pois, para mim, particularmente grato ter oportunidade de exprimir, por ocasião desta exposição de Troufa Real, as razões da sólida, profunda e duradoura amizade, bem como o meu muito apreço humano e artístico que me ligam ao inesquecível alferes Real.
Vasco Gonçalves
General. Ex-Primeiro Ministro