«

»

Abr 11

Troufa Real – O Mago

Muitos tipos de alunos passam pela orientação dos seus professores. Alguns são animosos, criadores, imaginativos, técnicos, poetas, outros são alunos médios ou são alunos sem vocação específica para qualquer das múltiplas actividades humanas.
Troufa Real coincide com o primeiro tipo de aluno.
Era, e demonstrou ser um imaginativo, um intuitivo, um criador nato. Troufa Real viveu e vive o Mundo da Arquitectura, numa ambivalência lúdica e criadora que o transforma numa personalidade única na cultura arquitectónica dos nossos dias.
Os seus desenhos, os seus sonhos, parecem-nos levar a uma cultura que nos envolve, nas valências culturais, que tanto podem ser do expressionismo como do primitivismo africano. É neste duplo ambiente que a sua enorme imaginação escreve para o Mundo, desenhando sonhos, utopias, brilhantes atmosferas que abrem as portas à cultura multiatlântica de um post-modernismo próprio.
É neste campo, em que a intuição anda à solta, em que se cria com  loucura, que Troufa Real se apresenta como vidente de um futuro humano, grandioso e multicontinental.
Admirem-se e analisem-se os seus gráficos, com as suas utopias e sentimos quanto da antecipação do futuro se alça alegre, colorido e arrebatadoramente livre, em relação aos preconceitos nacionais do austero padrão do analista.
É neste quadro que não posso esquecer a extraordinária série dos seus poemas desenhados sobre Lisboa e suas pontes, suas torres, seus jardins chineses, suas ruínas e a idiossincrasia própria com que expressa Macau.
Nestes esquemas tudo se transforma em produto poético cromático, ultrapassando as barreiras, impostas pelas ciências sérias e analíticas, como a linguística e a semiótica, o estruturalismo e tantos outros.
Os temas de Troufa Real ultrapassam todas estas definições para caírem na “linguística-cromática”, na “semiótica”, no “estruturalismo sem estrutura”.
O Universo de arte de Troufa Real não pode ser fragmentado, ele é um todo isto; sem fronteiras, sem análises. Tudo nascido na mais bela síntese artística que é a nossa mente e os nossos sentidos podem imaginar e sentir.
Que belas criações! Que enorme criador! Que enorme imaginação, utilizando no seu fazer, todos os ingredientes que sentimos, vemos ou ouvimos de uma só vez.
Tudo é síntese, e como sínrtese deve ser entendido.
Se o “desenho” molda esta parte do primeiro universo de Troufa Real, a sua alma multicontinental dá dimensão à sua segunda faceta. Faceta longa e incomensurável.
Quem andou com ele pelas terras da China, nas turbulentas praias africanas, ou o sentiu radioso e vivo nas metrópoles europeias e americanas e sentiu o calor profundo com que Troufa Real consegue absorbver dentro do seu ser, na sua alma, no seu “desenho”, todas as pequenas tendências particulares de todos os espaços do Universo.
Qual outro Fernão Mendes Pinto, Troufa Real humaniza por estas razões, o ser português, identificando-o com todos os ambientes naturais e supernaturais que o atingem por todos os lados.
Mas Troufa Real leva à máxima expressão o seu conteúdo humanista, elevando esta palavra do seu sentido ao mais amplo e à mais pura expressão da saída amorosa da amizade, da família, do clan, do homem, numa alegria de vida que se transforma na maior definição que podemos dar ao ser humano.
Troufa Real é por si e em si, um passar de séculos, de sensações, de realismos, de culturas vindas não se sabe de onde e indo para onde existem, inimagináveis locais do sentir humano. Tudo isto é feito em comunhão com a terra, que ele sente sempre existir sob ele.
Se tivesse nascido há séculos, seria um mago, um feiticeiro, um vidente ou um quiormante; um cavaleiro Templário lutando contra os diabos da análise, do racionalismo, mas voando e vivendo o amor da síntese pela forma, pela cor, pelo próprio sentir. Ninguém em Portugal, neste momento, vive esta magia amorosa de integração da arte em si própria e com o homem, como Troufa Real.
Talvez a palavra que defina o Troufa Real seja a de feiticeiro e como feiticeiro ele teria, por meio de enormes caldeirões de amizade e do amor, onde se lambuseia com criações misteriosas, isotéricas, as múlitplas dimensões da humanidade.
Desta sua retorta ou alambique saiem casas que abraçam universos, dando-lhes as dimensões e a amplidão que o Universo tem. Esta alma meiga e tumultuosa de Troufa Real.
Assim vejo Troufa Real. Assim o sinto, com a enorme amizade que anos e anos, séculos e séculos de conhecimento nos ligam.

Obrigado, Troufa Real, por o conhecer.

A. Pereira Brandão
Professor Catedrático da ESBAL. Arquitecto
Presidente da Academia Nacional de Belas Artes