
Em “Sagrada Esperança”, Agostinho Neto adopta, na sua essência, o modo mimético, regressando à linhagem conceitual iniciada por Cesário Verde. Do modo romântico, entretanto, o poeta militante conserva a metáfora da consciência como doença, esforçando-se por lhe atribuir um significado diferente.
O poema “Mussunda Amigo”, que não deixa de ser um dos mais emblemáticos escritos poéticos de Agostinho Neto, traz em si alguns aspectos importantes para compreendermos um poeta verdadeiramente inspirado. Entre eles, há a marca preponderante da junção colectiva de um “eu” e de um outro, figurado através do personagem Mussunda, para resultar, no final do poema, em um “nós”. Este é reforçado pelo “somos”, que, por sua vez, é marcado por várias implicações, entre elas: a reelaboração da formação de uma consciência histórica; o mesclar de um hibridismo linguístico, quando o poeta, como é próprio de sua prática, circunscreve cantos da cultura angolana no corpo do poema; a presença marcante de interrogações que corroboram a problematização do passado histórico; a rememoração e o ritmo final permeado por uma esperança. Além do mais, o poeta reinvoca o passado histórico: “Lembras-te? / Da tristeza daqueles tempos / em que íamos / comprar mangas / e lastimar o destino /das mulheres da Funda, / dos nossos cantos de lamentos / dos nossos desesperos / e das nuvens dos nossos olhos / Lembras-te?” (Neto, 2016, p. 64).
Fonte: Jornal de Angola